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DUPRÉ, Maria José. A Ilha Perdida. São Paulo: Ática, 1944 (várias reedições posteriores). 160 p. 13x27 cm.
Maria José Dupré (1898-1984) foi uma escritora brasileira de grande relevância na literatura infantojuvenil. Nasceu em Botucatu, interior de São Paulo, e se destacou por sua obra simples e sensível voltada ao público jovem. Começou a publicar relativamente tarde, já na década de 1940, mas se consolidou como uma das mais importantes autoras brasileiras da sua geração. Além de "A Ilha Perdida", seus livros "Éramos Seis" e "Gina" também são amplamente conhecidos. Suas narrativas costumam explorar temas como família, amizade, aventura e o autodescobrimento, envolvendo os leitores em questões de moral e ética de forma acessível e envolvente.
"A Ilha Perdida" conta a história de Eduardo e Henrique, dois irmãos que visitam a fazenda de um amigo da família durante as férias escolares. Movidos pela curiosidade e pelo espírito aventureiro, decidem explorar uma ilha misteriosa localizada nas proximidades. A aventura começa quando, ao remar até a ilha, acabam presos nela devido a um forte temporal. A partir daí, os meninos enfrentam desafios e descobertas em um ambiente isolado e desconhecido. No decorrer da história, os irmãos encontram um misterioso e sábio ancião que vive sozinho na ilha, com quem estabelecem uma relação de aprendizado e respeito. A obra trata de temas como a natureza, a sobrevivência e os valores humanos.
"A Ilha Perdida" é uma obra que encanta e ensina, especialmente ao público infantojuvenil, oferecendo uma mistura perfeita de aventura e lições de vida. A narrativa fluida e o estilo simples de Maria José Dupré tornam o livro uma leitura acessível, cativando os jovens leitores com sua história envolvente e personagens com os quais podem facilmente se identificar.
A principal mensagem do livro é a importância do trabalho em equipe, da responsabilidade e do respeito ao meio ambiente. Esses temas são introduzidos de forma natural, sem parecerem didáticos ou forçados, o que reforça a qualidade da narrativa.
Em comparação com outras obras do mesmo gênero, como "O Mistério do Cinco Estrelas" de Marcos Rey ou "A Turma da Rua Quinze" de Marçal Aquino, "A Ilha Perdida" foca menos no suspense e mais na imersão de um cenário natural e introspectivo, o que a torna única dentro da literatura infantojuvenil brasileira.
Diferentemente de aventuras urbanas que retratam mistérios e investigações, a obra de Dupré coloca o leitor em contato com a natureza e o questionamento pessoal.
O livro é indicado para crianças e adolescentes, especialmente na faixa etária de 9 a 14 anos. Seu enredo é ideal para leitores em formação, que estão desenvolvendo a capacidade de refletir sobre valores morais e sociais. Apesar de ser uma leitura tranquila, o conteúdo proporciona reflexões sobre perseverança, cooperação e respeito à natureza.
"A Ilha Perdida" é uma leitura essencial para jovens leitores que gostam de histórias de aventura com profundidade emocional e reflexiva. A habilidade de Maria José Dupré em tratar de temas importantes de maneira acessível, junto com sua capacidade de envolver os leitores em aventuras marcantes, faz dessa obra uma referência na literatura infantojuvenil brasileira.
GAIARSA, José Ângelo. O Espelho Mágico: um fenômeno social chamado corpo e alma. São Paulo, Summus, 1984. 0.80 × 14 × 21 cm.
José Angelo Gaiarsa nasceu em1920 na cidade de Santo André, região metropolitana de São Paulo. Faleceu em 2010, após completar 90 anos de idade.
Gaiarsa adquiriu ao longo da vida- discípulos e fãs diversos. Foi um dos mais iconoclastas psiquiatras do país e foi o pioneiro na utilização da psicoterapia corporal. Formou-se em medicina pela Universidade de São Paulo e se especializou em Psiquiatria pela Associação Paulista de Medicina. Introduziu as técnicas corporais em psicoterapia no Brasil.
Entre 1983 e 1993, Gaiarsa apresentou o quadro Quebra-Cabeça do Programa Dia-a-Dia, transmitido pela Rede Bandeirantes, em que analisava problemas emocionais, com a participação dos espectadores.
O médico foi um estudioso da psicologia da performance e da comunicação não verbal. Tratou de temas como família, sexualidade e relacionamentos amorosos.
Algumas de suas Obras:
Agressão, violência e crueldade (1993); A Estátua e a Bailarina (1976); A Engrenagem e a Flor (1966); A Inconsciência Coletiva; As vozes da Consciência (1991); Amores Perfeitos (1994); O Corpo e a Terra (1991); O que é Corpo? (1986).
O Livro O Espelho Mágico: um fenômeno social chamado corpo e alma - trata da dificuldade do homem em se ver, já que se olha sob a perspectiva da observação alheia, o que se pode conferir no trecho a seguir, retirado do livro:
“Podemos afirmar este paradoxo em relação a um encontro e a uma conversa de meia hora com um estranho: o rosto dele se faz quase familiar ao longo da conversa, mas o meu rosto para mim, e o rosto dele, para ele, continuam tão estranhos quanto sempre foram!”
Falar consigo ou falar sozinho são expressões familiares, mas “conversar com o próprio corpo” é uma declaração estranha. Ninguém conversa com seu próprio corpo. O autor fala do quanto do quanto o acontecer é mais amplo do que a descrição dos fatos feita por nós; gostamos de falar, somos falantes, tagarelas, a palavra nos vem fácil, mas os acontecimentos ultrapassam o verbal, já que são também visuais, afetivos, condicionados por experiências passadas.
Os homens descansam nas palavras, confiam nas palavras e obtém delas a ilusão da certeza, de segurança e permanência.
Ao mencionar Freud e a psicanálise, o autor se mostra decepcionado com o fato dessa ciência ainda considerar que “a alma é aquilo que se ouve através da palavra, e o corpo é aquilo que não importa muito”, o que significa que mesmo a psicanálise tendo grande prestígio e intenção de compreender o homem como um todo, ela omite a grandeza do corpo e aí vem a pergunta: “Quem transformou o corpo em pecado?”.
Ao mencionar o psicanalista Wilhelm Reich, o autor destaca que “nossos sentimentos alteram nossas expressões e nossos gestos, ou provocam em nós – esforços destinados a contê-los, controlá-los, escondê-los e as atitudes mais estáveis das pessoas e seus gestos estereotipados são verdadeiro resumo da história vivida por elas”.
Por fim, o autor fala do quanto o homem precisa de bodes expiatórios, e o quanto não vemos a nós mesmos, olhamos, mas não enxergamos.
Observem, somos todos vítimas e culpados. Infelizmente, generalizamos alguns achados básicos da psicanálise e até onde pôde, a psicanálise limitou-se à família, que é instrumento social de transmissão automática das pressões sociais, que perpetua as classes e fabrica os cidadãos.
“Se o neurótico subsiste e continua neurótico, é porque a estrutura social é análoga à familiar”.
O livro é uma viagem ao funcionamento mental do ser humano em relação ao modo como se vê ou melhor, não se vê- interiormente. Para quem aprecia descobrir seus medos, os quais para o autor são sinônimos de ansiedade, o livro ajuda a tomar mais consciência de si mesmo; é objetivo e ao mesmo tempo, reflexivo; principalmente, para quem já leu livros profundos sobre mentalidade, como “O poder do subconsciente” - por Joseph Murphy e “Mindset: A nova psicologia do sucesso” - por Carol Dweck.
Edna Francisca Cerdeira.